terça-feira, 13 de agosto de 2013

PARÓQUIA, COMUNIDADE DE COMUNIDADES

Mesmo que seja afirmado que vivemos uma época de individualismos e egolatrias, fruto da emancipação da subjetividade em detrimento da comunidade e do institucional, o valor da comunidade não pode ser renegado, nem relativizado. Os paradigmas culturais que formaram a civilização ocidental, a saber, o grego e o hebraico, sempre tiveram clarividente que o ser humano está na comunidade como ser político (Aristóteles) e como aquele que não pode estar só (Gn 2,18). Esta consciência de que é com o outro, na comunidade, que a realização humana e existencial acontece, sempre foi referência da condição humana em todos os tempos. Este fato social não pode ser desfeito, no que é essencial para as perspectivas da Humanidade, nem muito menos no que acidental para a História das Civilizações.
Autores como Zigmunt Bauman e Michel Maffesoli retomam esta questão sobre o fenômeno da vida em comunidade na Posmodernidade. O primeiro a descreve como fato social que existe de modo líquido, ou seja, de modo banal, superficial e objetual; em contrapartida, o segundo a enfatiza como realidade efêmera, de composição cambiante, com inscrição local e com ausência de organização, ou seja, com configurações tribais e grupais. Mesmo com prerrogativas da subjetividade moderna, estes pensadores retomam, mais uma vez, a importância da vida em comunidade como lugar imprescindível da realização humana na contemporaneidade. Poderiamos dizer o seguinte: se no período clássico a comunidade era constitutiva do estatuto ontológico da pessoa, na época hodierna a comunidade é constitutiva das relações individuais das pessoas.
A Igreja não pode desconsiderar esta mudança de mentalidade que vai gerar a mudança de época. Esta conjuntura não é mais institucional; mas individual e pessoal. Aliás, desde o Concílio Vaticano II, com a reviravolta bíblica e litúrgica, veio também a personalista (Hans Balthasar), a nossa mãe e mestra já reconhecera que a pessoa é centro de toda a sua vida pastoral e missionária. Por isso, convocou a todos que a compõe para uma renovação interna “sem ruptura”, que a levasse a um profícuo diálogo com o mundo, para o qual ela deveria ser Sacramento de Salvação.
A Paróquia é o lugar capilar da vida da Igreja. É nela que estas mudanças começam a acontecer. Ela é esta célula constitutiva das igrejas particulares e, consequentemente, da catolicidade da Igreja. A adequação das suas práticas missionárias e pastorais às provocações da atualidade são urgentes e desafiadoras. A V Conferência de Aparecida falou da necessidade da Conversão Pastoral (N. 356-66). Atentos aos sinais dos tempos, os nossos pastores afirmaram que esta mudança estrutural não aconteceria se não houvesse uma conversão dos batizados que estão na Igreja e que precisam ser Discípulos/Missionários de Jesus Cristo.  A paróquia só será Comunidade de comunidades se a mesma se tornar lugar do encontro dos que a compõem com Cristo e destes entre si. Para haver renovação das paróquias elas precisam ser comunidades de amor e do encontro; precisam urgentemente ser mais “humanizadas”; devem ser casa de acolhimento por excelência da vida do Povo de Deus.
Por fim, nos empenhemos todos para que a vida da Igreja retome o caminho das primeiras comunidades cristãs! (At. 2,42-47). A resposta mais coerente para o Mundo de como podemos e devemos viver em comunidade, os primeiros e mais autênticos cristãos já o fizeram, renovando assim, a vida de todas as instituições e comunidades. As paróquias podem retomar esta caminhada de Discípulos/Missionários de Jesus Cristo. Assim o seja!
Pe. Matias Soares
   Vigário Episcopal Sul da Arquidiocese de Natal-RN 

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